Ensaios

This whole paperless thing is going too far

Não sou advogado do papel. Muito menos do digital. Eu sou simplesmente um leitor.  Seja no papel, na tela, numa parede ou no céu, o que me importa é ler. E talvez por isso me incomode tanto ver o povo brigando. Em especial aqueles que mais deveriam se unir nesse momento: nós, os leitores.

Há, entre nós, aqueles que defendem o papel, tratando o digital como moda, e aqueles que declaram o rei papel morto e o rei digital posto. Acho exagero. De ambos os lados. Como fui sócio em 2 sebos, sei bem que o papel não irá morrer. Assim como o digital que, salvo cenários pós apocalípticos, também não irá sumir de uma hora pra outra como um gel de cabelo com glitter dos anos 80. O digital se tornará um novo padrão, é verdade, assim como o carro substituiu o cavalo mas não o extinguiu, e, vamos torcer, deve ter no futuro um grande papel- desculpem-me, foi sem querer 🙂 – nos esforços de popularizar a leitura.

Infelizmente, meu pessimismo, pelo menos nesse período interregno, tem apontado para um cenário diferente. O digital, pelas facilidades de transmissão e replicabilidade, e pela sensação de impermanência que gera, não tem até agora ajudado na leitura e muito menos na escrita. As pessoas hoje mais facilmente fingem que leram, repassando a responsabilidade de leituras não feitas sob o manto sagrado de sugestões que nunca serão seguidas; e escrevem muito pior, escondendo a falta de opinião e a incapacidade argumentativa sob um excesso de letras e imagens  vazias, ou em repetidas e exaustivas correntes de monossílabos incoerentes disfarçados de trissílabos e polissílabos (informar, avaliar, verificar, executar, proceder?!), do que em outras épocas.

Pode-se argumentar que poucos eram os que escreviam antes, o que é verdade, mas a preguiça de pensar generalizada conjugada à ânsia de se expressar publicamente, fruto de outros cenários atuais, pode se tornar bastante perigosa no futuro e, na minha percepção, já está reforçando o natural  anti-intelectualismo da população.

Para evitar essa idiocracia generalizada, o que precisamos não é dessa dicotomia papel x digital, mas de união. O papel, nesse novo cenário, talvez precise se tornar um pré requisito ao digital a fim de “salvar” a própria leitura.

É preciso que saibamos que  o que está em jogo não é a mídia, mas a atividade. O que importa não é o papel, o computador, a escola, a TV, mas a educação, os relacionamentos, a leitura. Assim, como sem lógica você não pode aprender a programar, você deveria funcionalmente aprender primeiro a escrever e ler no papel, antes de se render às facilidades do digital.

Apesar do que muitos acham por aí, para aprender algo pelo menos um pouquinho dificuldade pode realmente nos ajudar. Não concorda, Demóstenes?

“qeopfkpwkek pwkpfkpkwkk eqwofjpwfwp”

Mas num mundo em que não é preciso saber falar para fazê-lo publicamente, o que podemos esperar?

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