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A (in)esperada virtude da Gnose

A minha segunda maior satisfação com uma obra é entrar em contato com ela sem saber nada a respeito. Ontem essa satisfação foi com Birdman. Tá, eu sabia um pouco a respeito. Impossível não saber nada sobre um filme ganhador do Oscar. Eu sabia dos planos sequência, da história do ator que tinha interpretado um super herói mas parei por aí. Por conta desse desconhecimento, tenho certeza, a minha satisfação foi tão grande.

Atualmente estou participando de um grupo de estudos de dramaturgia e o recurso do plano sequência, limitado geograficamente ao entorno do teatro, acabou me parecendo mais teatral do que cinematográfico, o que só contribuiu com a temática. Graficamente o filme é muito bonito e as transições de gênero concentradas nos conflitos dos personagens funciona direitinho. O casting também foi cirúrgico, com Michael Keaton, Edward Norton e Emma Stone, figurinhas carimbadas de filmes de super heróis, num filme que os “critica”. Se bem que fica a dúvida: é possível montar um elenco com algum ator que nunca participou de uma dessas franquias? Um bom desafio.

Porém o ponto que mais me intrigou foi a relação do filme com o conhecimento. A incerteza e a ignorância são a tônica das relações. Ninguém sabe de nada. Não sabem o que fazer, não sabem o seu futuro, nem conhecem seu passado. Tudo está sob suspeição e quando as pessoas sabem de algo é um conhecimento impossível de ser explicado. Ou, como diz o personagem de Norton, o único momento em que ele é verdadeiro é quando está no palco. A falsidade é a verdade.

Frente a esse cenário onde ninguém sabe o que é arte e onde as pessoas que “decidem” o que é o fazem por motivos mesquinhos, não saber é o único caminho para saber. O fazer toma a frente do saber e o conhecimento se cristaliza pela ação inconsciente. 

É nesse momento divino de libertação quando o conhecimento se torna fato, e onde o hiperrealismo é o único caminho da arte, pois tudo que estiver na tela, na página, nos sons, é hiper real pois nos conecta, que  Birdman e eu alçamos vôo. Pra onde? Não sei.

O filme terminou e continuei sem saber. Não saber nada depois de assistir: a minha primeira fonte de satisfação com qualquer obra de arte.

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