Ficção

Amigos de bar

A gente se conhece assim: pedindo o isqueiro pra acender o cigarro, ou pedindo um cigarro pra acender o isqueiro; perguntando se a mesa tá ocupada, ou perguntando se pode sentar na cadeira vazia; querendo saber se o outro está na fila da cerveja, ou se alguém está usando o banheiro; se intrometendo na conversa alheia por excesso de conhecimento ou pura ignorância, ou recebendo um comentário pertinente ou totalmente descabido sobre uma conversa que…

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Ficção

A natureza

Preso a um emaranhado de fios de aço, como uma mosca aguardando se tornar o jantar de uma aranha, ele caminhava com medo e cuidado sobre troncos dispostos como degraus 20 metros acima do solo. Suas mãos calejadas tremiam, agarradas a uma linha de vida que, desconfiava, não aguentaria seu peso; as pernas pulsavam, inchadas e exauridas pelo esforço totalmente desnecessário; o suor brotava da sua testa e descia salgado pelos seus olhos provando que…

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Ficção

O que você vai comer, amor?

A diferença de 4 horas, por incrível que pareça, facilitava seus encontros. Enquanto ele ia almoçar, ela estava tomando café. Para parecer que era um encontro de verdade, sempre comiam fora. Um comendo na copa da empresa e a outra de pijama na cozinha não seria nada romântico. Assim, acordavam cedo, se embelezavam e, arrumados, como manda o figurino, iam comer juntos. O lugar preferido dele em Berlim era uma lanchonete perto do serviço onde…

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Poesia

5:25

Entregue à insônia, você tenta dormir mais uma vez, de vez. Mal fecha os olhos, na web radio, começam a tocar Fleetwood Mac, Stevie Nicks, 38 degrees, e tudo mais feito pra te des pertar. Você de siste e de cide dar mais uma chance à madrugada. Se está acordado, algum motivo deve haver, algum sen tido deve haver. Pelo menos até o sol nascer, até o sol nascer. Qual será a próxima música a…

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Ficção

As merdas do Arnaldo

Arnaldo, apesar de despachado com os amigos, socialmente era um homem de pudores. Por exemplo, ele nunca comprava papel higiênico no pico de movimento do supermercado. – Porra, Arnaldo, vai comprar papel. Tá pra acabar- Flavinha dizia. – Relaxa. Pra hoje tem. Vou amanhã. – Que diabo de frescura é essa, homem? – Porra, Flávia. Só não quero que o pessoal lembre que eu cago. – Arnaldo, cá entre nós, todo mundo caga. – Eu…

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Ficção

O taxista de Schrödinger

Outro dia, o cara chegou no botequim com uma questão interessante. Disse, ele, que ao pedir o pix do taxista pra pagar a corrida, apareceu um nome de mulher no aplicativo do banco. Pra confirmar se o dinheiro ia pro lugar certo, perguntou: – Fulana Sicrana de Tal? É isso mesmo? – Sim- o motorista confirmou.- Esse é o meu nome antes da mudança de sexo. Na hora, o cara congelou. Estava numa encruzilhada. Tanto…

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