Um dia, Alessandro acordou bem cedo e notou que a sala estava diferente. Não sabia exatamente o quê, mas havia algo estranho. Apesar da ressaca braba que fazia a sua cabeça latejar, ele conseguiu ficar alguns minutos em pé analisando todos os cantos da sala, mas não conseguiu identificar o que estava lhe incomodando. Pensou em fazer uma análise mais aprofundada dos móveis e passar as paredes em revista, mas estava muito cansado e resolveu tirar um cochilo antes.
Acordou antes das dez da manhã um pouco melhor, mas continuava com a impressão de que a sala estava errada, quase como se ela não fosse a sala da sua casa. Pensou em tomar uma cerveja para rebater a ressaca, mas ainda estava muito cedo. Abriu o computador, mandou alguns currículos pelo LinkedIn, assistiu a uns minutos de um programa de culinária e fez uma oração sem fé pra arrumar um emprego ou, pelo menos, algo pra fazer. Deu 10 da manhã e foi pro botequim apressando o passo.
Sentou numa mesa do lado de fora, pediu um cinzeiro e uma cerveja e tomou a primeira do dia. Seu Nelson chegou logo depois, sentou na mesa ao lado da dele e pediu uma cerveja sem álcool.
– Tudo bem, seu Nelson?- tentou puxar conversa.
– Ahn?
– Eu tô bem. O senhor já teve a impressão de que havia algo errado com a sua casa?
– Calça?
– Casa. Ah, deixa pra lá, valeu?
– Ahn?
Tomou umas cervejas em silêncio e mudou de bar. Pediu um prato feito, almoçou e foi pra casa tirar um cochilo. Acordou por volta das 5 da tarde se sentindo bem melhor. Ainda continuava com a mesma sensação de estranheza. Resolveu mandar uma mensagem pra faxineira Talvez ela soubesse o que havia acontecido com a sala. Ela respondeu:
<Você está falando da planta nova?>
Era isso. No canto esquerdo da sala lá estava ela. Num balde travestido de jarro, uma pequena árvore, que nunca tinha visto, emoldurava as paredes sujas do apartamento. Baixou um aplicativo identificador de plantas e tirou uma foto dela: embaúba, também conhecida como planta da preguiça.
– Onde diabos fui arrumar isso? Deve ter sido sacanagem de alguém- se lamentou sozinho.
Tomou um banho e desceu pra tomar uma cerveja na praça. Encontrou alguns conhecidos e comentou sobre a planta. Todos riram muito, acharam curioso, mas ninguém ficou efetivamente surpreso. Isso era bem a cara do Alessandro.
Bebeu, fumou e conversou até ter sono. Foi pra casa e, bêbado, regou a planta, mesmo sem saber se deveria regá-la. Dormiu rapidamente e sonhou que dormia em cima da árvore já crescida na própria sala como um grande bicho preguiça. Cumprida a sua missão, a planta se foi e levou suas memórias.
Acordou bem cedo no dia seguinte, se sentindo descansado como há muito não se sentia. Chegou na sala e sentiu que faltava algo, mas não sabia bem o quê. Sua atenção focou num canto vazio no lado esquerdo da sala e ele conseguiu até ver como uma planta ficaria perfeita emoldurando aquela parede vazia e suja.
Mandou uns currículos no LinkedIn e quando deu 10 horas foi pro bar. Esperava encontrar seu Nelson. Pelo que lembrava, ele era botânico aposentado. Com certeza ele saberia qual planta seria ideal pra ele colocar no seu apartamento. No caminho para o bar, uma palavra não saía da sua cabeça: embaúba, embaúba. Onde tinha ouvido isso? Apressou o passo. Já estava atrasado pra tomar a primeira do dia.