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Revertere ad locum tuum

A pandemia tá me forçando a acompanhar quase umas 8 horas diárias de programação infantil. Entre uma reunião e um webinar, entre um relatório e uma apresentação, esbarro com os detetives do prédio azul, com o Mr. Bean, com os Animaniacs, e com o Scooby Doo. Hoje na hora do almoço fui obrigado a assistir a Playlist Gloob.

Pra quem nunca viu, e nem recomendo, o programa recém lançado é uma hora de MTV para crianças. Toca as músicas dos seriados, os pop quase proibidão das ex-starlets infantis, e uma boa dose de K-Pop. O engraçado é que até as músicas me lembram a dance music chiclete, estilo Stock Aitken Waterman, que tocava no início da MTV Brasil.

É como se a MTV, após a sua morte, tivesse se transformado numa novidade para crianças e ao mesmo tempo numa experiência nostálgica para a meia idade. Muita coisa segue o mesmo caminho. Quem não viveu a mídia morta acha que está desbravando um novo mundo que não foi devidamente aproveitado; quem viveu a usa para simular uma memória de identidade que não existe mais. Como dizem, toda geração acha que é ao mesmo tempo a primeira e a última a caminhar pela terra. Nesse movimento de eterno renascimento e retorno, nada termina de fato; só passa por um período de repouso antes de uma nova resignificação.

Pena que escolheu a hora do meu almoço para esse momento Fênix. Eu, cá entre nós, preferia estar assistindo à minha MTV. Hipocrisia? Um pouco, mas não conta pra ninguém.

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