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Robôs fascistas não sabem o que é arte

Desde 2018, o Tumblr, alguém ainda lembra que ele existe?, depois de ter sido adquirido pelo Yahoo, que nunca soube o que fazer com ele, foi transformado num “campo seguro”, sem pornografia e outras coisas perigosas como exaltação da Anorexia e afins. Não dá pra negar que lá era terra de ninguém. Merecia algum tipo de moderação, sim, mas a forma como foi feita não foi a melhor.

Tenho um blog lá, onde posto basicamente fotos legais que acho pela web, e fui, óbvio, afetado pelo processo. Entendi o esforço e a preocupação, mas a aporrinhação de ter posts suspensos por motivos incompreensíveis, me fez abandonar a plataforma durante um ano, sem perspectivas de voltar. Mas voltei.

No meio da pandemia, comecei a esbarrar com imagens, vídeos e fotos que queria guardar numa memória auxiliar, e, como distração, acabei retomando o seu uso. Por um bom tempo, não tive problemas. Ontem, como as coisas parecem estar abrindo no hemisfério norte ocidental e a normalidade retorna junto, comecei a receber um bando de mensagens de suspensão de posts, mas agora com um viés diferente.

Ao invés do clássico “aqui tem mamilos femininos ou quase”, que me bloqueava os stills de filmes franceses dos anos 90, ilustrações pulp dos anos 30, quadros naturalistas do final do século XIX, ensaios de pin ups dos anos 50,  e publicidade brega da Pirelli e outras marcas eurotrash dos anos 80, umas coisas que nada tinham a ver com isso começaram a ser bloqueadas: arte sem nudez, arte com nudez aparente ou coberta, quadrinhos sobre direitos trabalhistas, imagens anti-nazifascistas, mensagens contra violência obstétrica.

É impossível passar por isso e não pensar no desmonte da cultura no Brasil, na destruição da biblioteca da Fundação Palmares, e em tantos movimentos conservadores que estão dominando o nosso planeta. Apesar das suas lideranças estarem, aparentemente, saindo dos holofotes, as máquinas institucionais, os robôs e algoritmos que programaram continuam em atividade. Como viver num mundo em que conferimos “inteligência” a algo artificial sem esperar que ele precise também adquirir sensibilidade? A quantos passos estamos desses algoritmos acéfalos porém mal intencionados começarem a definir o que é arte “degenerada” ou arte “nacional heróica”?

Assim, sob os auspícios do tecnopólio do estado policial, os robôs, com o pretexto de identificar crimes sexuais, pornografia e afins, trabalham 24/7 pela construção de um mundo “limpo” e censuram nossa arte e nossa expressão sem pudor e sem chance de diálogo ou revolta além de um clique de um botão. Enquanto isso, o ódio político e a violência contra a população, pagos por ela própria, são endeusados e cantados em versos tortos e prosa ruim para todos ouvirem em cadeia nacional no YouTube.

Como dizia Fellini, a censura é a propaganda de Estado; como nos dizia Jack Nicholson, filmes com homens beijando seios são censurados, enquanto filmes de pessoas sendo degoladas são censura livre. Coloque robôs incansáveis e moucos nessa equação. É impossível não temer pelo nosso futuro.

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