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Os Bullies de Bolsonaro

Acho que entendo a fascinação de 30% da população por Bolsonaro.

Quando eu estava no colégio, eu tinha o péssimo hábito de me interessar pelo que era ensinado. Não quero dizer que eu gostava de estudar para as provas ou tinha responsabilidade pelo meu sucesso estudantil. Na verdade eu era bem relapso. Estudava de véspera; fui repreendido várias vezes por ler quadrinhos e livros de ficção durante as aulas; até tinha boas notas, mas não era um dos melhores da turma. O que me diferenciava da maioria é que eu tinha curiosidade real pelo que os professores traziam para a sala de aula. Essa postura me aproximava muito deles e os estimulava a aumentarem, vamos dizer, suas intervenções pedagógicas.

Por conta de algumas sugestões minhas, professores nos colocaram para criar jogos sobre a Guerra do Vietnã durante as férias de julho; mexiam nos temas das redações, incorporando o barroco e o hiper romântico como inspiração; e até uma vez nos fizeram ler um longo texto medieval em francês para o trabalho final de Cultura Clássica. Não preciso dizer como era odiado e como eu apanhava por conta disso.

Muitos desses alunos que me espancavam não eram ruins, nem irresponsáveis, eles só tinham uma visão diferente da vida. Queriam o máximo de ganho, com o mínimo de esforço. Muitos vindos de famílias com negócios estabelecidos ou herdeiros de posições de status só aguardavam passar por todo esse período de estudo para assumir o seu papel na elite a qual acreditavam pertencer. Eram pragmáticos na utilização das vantagens estruturais que tinham.

Por isso eles me odiavam. Eu representava para eles a falta de propósito e o desrespeito a uma hierarquia na qual eles queriam reinar. Eu, quase como um Diógenes, vivia num barril, no caso na biblioteca do colégio, fazendo pouco do rei sol que eles acham ser com a minha vontade de aprender e conhecer. Eu, explicitamente, declarava “Eu não sei”, o que revelava a ignorância geral e nos forçava a aprender. Por isso eles me odiavam.

Essa é a mesma origem do ódio dos bolsonaristas pelo restante do país. Empoderados pelas suas pequenas autoridades, como empresários, policiais, comerciantes, motoqueiros, milicianos, pastores, militares, eles sentem que o restante da população está tirando deles direitos aos quais ninguém deve ter direito. O direito de humilhar e ameaçar; o direito de ter escravos; o direito de não se importar com o meio ambiente, a segurança coletiva ou a vida alheia. O direito de matar os pobres que não lhes servem e de se meter na vida sexual dos outros. O direito de ser ignorante sobre a arte, a cultura e a vida. O direito de ter, sem saber, simplesmente por se acharem ungidos por sei lá o quê. Afinal, aos herdeiros da Terra Devastada e adoradores do bezerro dourado, tudo é permitido. Aos outros, uma escolha: a servidão ou o extermínio.

Quando vejo bolsonaristas, eu lembro dos bullies do meu colégio e sinto pena. Vazios de amor e sonhos, só lhes restou a violência e a ilusão de um ego fraturado e carente. É triste perceber que hoje somos governados por aqueles que rasgavam os livros da escola, humilhavam os professores e nos batiam na hora do recreio. Quando iremos crescer e sair desse torturante colégio da ditadura?

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