Ficção

Recordações do Futuro

Quando chegar nas Barcas, ela responderá aos insistentes pedidos dos amigos para sair na primeira noite do feriadão com um enfado ensaiado: “Esse FDS não dá, gente. Vou ter que visitar os meus pais. Mas devo voltar logo. Affff. :-/”. Passará pela catraca como se nunca tivesse deixado de morar na ilha, e cumprirá o seu ritual alimentar pré-embarque: um misto quente gorduroso e uma coca normal. A Barca chegará, ela aguardará as prioridades embarcarem…

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Ensaios

As inaugurações de Paquetá

A primeira vez em que verti sangue em Paquetá foi no parque Darke. Caminhando depois de ter desenhado o caminho sombreado pelas árvores, uma pequena ponta, de vidro, metal, ou pedra, não pude identificar, atravessou o chinelo fino e furou minha pele. Caminhei mancando até a farmácia onde limpei o pé com água mineral, apliquei Merthiolate e protegi a ferida com um band-aid. A primeira vez em que passei o ano novo em Paquetá foi…

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Ensaios

Notas (de rodapé) sobre Paquetá

Paquetá é uma encantadora ilha localizada no coração da Baía de Guanabara, a aproximadamente 15 quilômetros do centro do Rio de Janeiro. Seu acesso é feito por barcas que partem em horários regulares da Estação Praça XV, proporcionando aos visitantes uma travessia tranquila e cênica até esse refúgio singular. Originalmente habitada pelos indígenas Tamoios, a ilha foi ocupada por colonizadores portugueses a partir de 1555. Durante os períodos Colonial e do Império, Paquetá foi um…

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Blog Ficção

A falta que faz uma livraria em Paquetá

Pra mim era inacreditável que Paquetá, berço do Romance Brasileiro, não tivesse uma livraria sequer. Nem uma banca de jornal, ou, ao menos, um display na estação das Barcas vendendo edições de A Moreninha, tinha. Quando externei esse espanto ao dono da pousada, ele me corrigiu: — Paquetá não tem livraria, mas tem uma livreira. Antes que eu pedisse, ele explicou: — Parece que ela já teve loja há muito tempo e vende os livros…

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Ficção

Passagem só de ida para Pasárgada

Um dia vou fechar essas portas pra sempre. Pra nunca mais voltar. Mas não farei alarde. Sairei daqui como se nunca fosse partir, como se nunca tivesse vindo pra cá. Quando esse dia chegar, pela última vez, acordarei de madrugada, cansado, mas sem conseguir voltar a dormir. Me esgueirarei, na ponta dos pés, do quarto para a sala, carregando um cobertor quente demais para o calor de todos os dias, e os livros que quero…

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Poesia

Não, Paquetá, não…

Paquetá? Não… Paquetá não tem infraestrutura que permita alguém viver lá. Paquetá não tem, pra você ver, meios para que, numa emergência, cheguemos ao continente com na urgência necessária. Paquetá não tem nada. Paquetá não tem sequer vida cultural. Paquetá não tem cinema, não tem livrarias, casas de show, museus de fato, nem restaurantes decentes nos quais você possa ir jantar. Paquetá não tem nada que temos por aqui. Se bem que nem tudo que…

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