Notas

A estagnação cultural das famílias televisivas

Ontem, meu amigo, Rafael Lima, me enviou um link do Instagram com a bela arte conceitual de Os Flinstones, concebido para ser um desenho para adultos e exibido, durante anos, no horário nobre da TV americana. Claro que isso me fez cair num buraco de coelho das narrativas sobre famílias na televisão.

O desenho hoje parece ingênuo, inapropriado em alguns momentos, e bastante clichê, mas, precisamos lembrar, foi ele, como um marco na Televisão e na história das narrativas sobre famílias, que criou o modelo que vem sendo repetido à exaustão. Desde a sua criação, muitas famílias passaram pelas nossas telas, animadas ou não, refletindo as mudanças no modelo familiar e na sociedade. Os tecnológicos Jetsons, os bicho grilos dos Muzzarelas, os exóticos Addams, a falida família Bundy, e, por que não?, até a família contracultural dos Quest, com um casal de homens e filhos multiétnicos. Porém, parece que tudo parou em Os Simpsons, que há mais de 30 permanece imbatível como a família nuclear americana, e, quiçá, mundial.

Óbvio que tivemos algumas outras experiências narrativas com famílias nesse período, como, por exemplo, em Family Guy, American Dad, e King of the Hill, mas nenhuma tirou o posto de Os Simpsons. É curioso que algumas dessas experiências mais significativas se remetam a famílias do passado, como os Goldbergs e os Rock (de Everybody Hates Chris) nos anos 80, e os Formans de That 70’s (e 90’s) Show, enquanto as demais representações começaram a ter famílias escondidas sob relações laborais, em Community, The Office, e Futurama, ou famílias estendidas baseadas em amizade, em, surpresa!, Friends, How I Met Your Mother, e Will & Grace.

Parece até que paralisamos não só no modelo familiar, como culturalmente, à espera de outros formatos narrativos e familiares que abarquem as mudanças que tivemos desde então.

Não espanta que estejam tentando retomar os Flinstones com o spin off Bedrock, onde a “família moderna da idade da pedra” será confrontada com a passagem para a era do Bronze. Talvez essas nossas sensação de vazio e paralisia familiares sejam apenas frutos de um interminável período de transição sem vistas de se encerrar.

De toda forma ainda fica o questionamento: paramos de mudar ou perdemos a coragem de mostrar como somos de verdade enquanto famílias? Vamos deixar os Flinstones tentarem responder a essa pergunta enquanto temos um “gay ol’ time”.

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