Blog

(Diz se) 9 não são vinte

A primeira década é subestimada.

Espremida entre o nascimento e a ansiada adolescência, a primeira década, consumida pelas falhas da memória em primeiro uso, parece um tempo a ser esquecido.

Mas, apesar de você não lembrar quase nada da primeira metade dessa década, a segunda metade, mesmo que guardada em névoas espectrais e nostálgicas, estabelece muito do que você é, pois, traumaticamente, foi quando ocorreram todos seus primeiros encontros.

Os primeiros amigos; as primeiras desilusões; as primeiras emoções fortes. Os primeiros amores; os primeiros livros; os primeiros filmes. Os primeiros aprendizados; os primeiros sonhos; as primeiras frustrações.

E por mais que a falta da organização lógico formal, que irá dominar o restante da sua vida, impeça você de resgatar todos esses momentos, eles, tenha certeza, serão a sua razão para fazer tudo o que viver daqui pra frente.

A razão do seu medo de elevador. A razão de você não gostar de andar de ônibus. A razão de você querer comer sushi toda vez que entrar de férias. A razão de você adorar ficar de cabeça pra baixo e subverter a maneira de se sentar em todos os móveis e cadeiras. A razão de odiar mastigar gelo. A razão de desconfiar demais de figuras de autoridades e confiar além da conta em novas amizades. A razão da sua raiva de palhaças pois um dia uma delas te jogou numa piscina com uma bundada. Enfim, a razão de todas as coisas que parecerão não ter razão de ser, mas tem. E ó se tem.

Nesses primeiros dez anos, que antecederam a sua adolescência, você teve contato com as experiências primais que serão rebuscadas em suas próximas rodadas.

Os afetos virarão romances. As brincadeiras virarão vocações. Os medos virarão crenças. As conquistas virarão valores. As fantasias virarão planos de vida.

E, enquanto planeja e executa essa vida futura, você esquecerá desses 10 primeiros anos. Os anos que lhe fizeram se apaixonar pela vida; os anos que lhe deixaram curiosa sobre até onde você e o mundo podem chegar; esses 10 primeiros anos estarão escondidos embaixo de fotos com pessoas das quais não lembrará, e de histórias que seus pais contarão e você terá certeza que não foram bem assim.

Por isso, agora que começa a sua jornada em direção aos 20 anos, lhe peço: não esqueça dessa sua primeira década. A década em que lhe conhecemos e, por incrível que pareça, a década em que mais esteve com a gente, de uma maneira que jamais estará.

Assim, lhe desejando sorte nesse gradual se descolar dos seus pais, eu só lhe peço que não esqueça de tudo que passamos juntos e de todas as experiências que são a base da pessoa incrível que você é e será.

Mas não precisa ser que nem o Casimiro de Abreu que está enterrado lá na Igrejinha perto da casa da tia Dé. Afinal “que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais”, como você sempre diz, é dessas coisas super bregas que só o seu pai gosta.

Então, sem mais blá-blá-blá, lhe desejamos um feliz aniversário, uma incrível segunda década, esperando que tenhamos lhe ajudado a ser um pouco mais feliz nessa primeira!

Beijos do seu pai e da sua mãe que a amam.

Li e Gabi

Fala aí

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.