Ensaios

Sempre o Domingos

Eu tive um professor de Filosofia da Arte que era fenomenal. Era o tipo de sujeito que chorava explicando o plot de Antígona e explicitava as diferenças entre drama e tragédia simulando uma crise de diarreia protagonizada por Getúlio Vargas. Saca o tipo? Tive aula com ele no breve período em que, sabe se lá por que, calhei de estudar na PUC. Preso naquele Shangri-lá vizinho ao Baixo Gávea, onde todos eram belos e jovens,…

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Ensaios

Pra quem tem medo da ameaça vermelha

Logo depois que o Jango assumiu, o país entrou em polvorosa. Tipo hoje. Mas à sério. Um grupo de oligarcas, executivos de multinacionais e ricos sem razão específica que costumava se encontrar para engraxar os sapatos juntos (não me perguntem o porquê, eram os anos 60) também se deixou contaminar pelo papo. Além de falar de suas famílias e suas amantes; de seus negócios e de suas negociatas; de vinhos e Whisky e de seus…

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Ensaios

Guia Turístico dos Ônibus do Rio de Janeiro

O casal de turistas sobe no ônibus na altura da Constante Ramos. – Esse é o 127?- a mulher pergunta, num sotaque impossível de se identificar. Pode ser argentino, russo ou até mesmo do interior de São Paulo. – NÃO! É O TRONCAL 1! UUUM! O 127 ACABOU! PRA ONDE VOCÊS VÃO? – o motorista gentilmente lhes atende. – Quê? – PRA ONDE VOCÊS VÃO? PRA ONDE? – Ah, Rodoviária. Rodoviária?- ela se vira para…

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Ensaios

A morte do Cão e o anúncio do Ministro

Quando eu tinha uns 11 anos, ganhei de presente um Beagle. Foi uma alegria. O cachorro era maravilhoso: bonito, esperto e sapeca na medida certa. Motivado pela minha obsessão por Conan Doyle, dei-lhe o nome de Holmes. Ao mesmo tempo em que me divertia em ser perseguido por ele no aterro do Flamengo como um menino de 6 anos, curtia passear com o Holmes na rua e ver as meninas parando para acarinhá-lo e flertar comigo. Foi…

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Ensaios

Ecos

No meio da madrugada, o barulho da máquina de escrever elétrica me acordou. Segui o zumbido futurista do deslizar da esfera metálica da IBM até o quarto da minha mãe. Sob uma fraca luminária ela se esforçava para escrever curvada sobre aquela grande peça de metal verde. Fiquei ao seu lado por pelo menos uns 5 minutos antes que ela se desse conta da minha presença. – Te acordei, filholo? Ela me colocou no colo…

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Ensaios

Alegria, Alegria!

O excesso de festividades e essa alma celebrativa do brasileiro escondem uma grande melancolia. É só andar pelas ruas num dia como hoje para notar. Depois da grande festa, as pessoas se movem lentas, sem destino, passando por terríveis crises de consciência. Ressaqueadas. Física e moralmente. Alguns mais guerreiros continuam a se intoxicar tentando voltar àquele estado inebriado de felicidade. É inútil e apenas esconde a vontade secreta de ficar infeliz. Mas mesmo assim tentamos.…

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