Ficção

Estatística

A avó, apesar de vacinada, só pensava em covid. Vivia com medo de pegar; vivia com medo de morrer. Qualquer coisa achava que era sintoma, mas fazia os testes e nada. Porém isso não diminuía a sua angústia, só aumentava.

Os filhos e netos, sem saber o que fazer, resolveram realizar o desejo da avó, e, depois de uma nova série de exames negativos, forjaram um positivo. A avó recebeu a fake news estoicamente. Prometeu que ia lutar contra a doença que não tinha. Todos embarcaram na fantasia e passaram os 14 dias de quarentena como se fosse de verdade. Os sintomas, reais ou imaginários, não apareceram e ela melhorou. Do que tinha e do que não tinha.

Passada a quarentena, sua vida mudou. Como dizia, era uma sobrevivente. Ainda seguindo todas as medidas sanitárias, começou a viver mais. Saía pra pegar sol; ia ao supermercado comprar uma coisa ou outra; e até parou de acompanhar o quadro de mortos e infectados.

Um dia teve algo que parecia uma gripe forte, fez os exames e deram positivos. Pra covid.

Novamente, recebeu a notícia, agora real, estoicamente e prometeu que ia passar por essa como da primeira. Não passou. Do leito de morte mandou uma última mensagem aos filhos e netos: “Não tenham medo de morrer, tenham medo de não viver”.

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