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Picard, out

Terminou. Não foi o que eu esperava; não trouxe a redenção prometida; não quis, mas poderia, ser uma Tempestade de Shakespeare ou Marlowe Takes On the Syndicate do Chandler, mas foi bom.

Dentro das pressões econômicas das franquias para sobreviver, Picard conseguiu trazer coisas novas, mesmo sendo bem irregular. A minha impressão é que não deixaram Michael Chabon contar a história que ele queria. Dessa forma, a última aventura noir do último homem sensato da galáxia ficou misturada a uma trama mezzo política, mezzo militar de baixo interesse. Pelo menos pra mim.

Talvez a culpa de não ter curtido seja minha. Parcialmente. No meio de Picard tive o prazer de retomar contato com amigos queridos que sempre curtiram Star Trek e por sua culpa, quer dizer, indicação, acabei revendo alguns episódios da Nova Geração e da série Clássica, o que com certeza mexeu nas minhas expectativas.

Inner Light, Yesterday’s Enterprise, The City on The Edge of Forever, Amok Time e afins são aves rarae que remotam a origem da série clássica: um framework utópico onde diversos escritores de ficção científica, como Harlan Ellison, Theodore Sturgeon e Robert Bloch, encaixavam suas histórias conceituais. A nova geração seguiu o mesmo modelo, algo que as séries de hoje não tem a mesma liberdade de fazer.

Hoje em dia, graças a Sopranos e sua era de ouro da TV, temos estruturas dramáticas de arcos longos que dificultam a criação dessas pequenas pérolas. Mad Men, Sopranos e Breaking Bad conseguiram, em alguns momentos, mas, usando o jargão dos videogames, eram side quests. O modelo antigo, muito mais ligado ao conto, onde o world building surge das histórias individuais e não do inverso, está sendo substituído pelo romance. E como dizem, no romance há muito espaço pra erros, se a estrutura for sólida; no conto só se pode almejar à perfeição.

Picard se perdeu nesse meio. Não almejou a perfeição em seus episódios individuais e, mesmo assim, não apresentou um arco longo claro e forte. Num screenwriter’s cut, se é que existe isso, poderíamos manter só a questão do pagamento da dívida moral de Picard com Data e ter uma série bem mais interessante.

Mas não gosto de reclamar das obras alheias. Foi bom rever muitos personagens antigos, acho que a nova tripulação é bem interessante e, óbvio, acompanharei as próximas temporadas com interesse. Ficou um gosto de poderia ser melhor, que não sentimos ao rever aqueles episódios clássicos, mas, confesso, como o Data, sou humano, e rolou “una furtiva lacrima” no final de Picard.

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