Blog

Saudades

Vou te falar. Nesses tempos de isolamento social não estou com tanta saudade de pessoas, mas de lugares. Com as pessoas tenho falado, mesmo virtualmente. Como nunca fui dado a abraços ou outros tipos de contato físico, estou conseguindo levar. Estou com a família, sinto saudades da minha mãe, mas, dos demais, acho que dá pra aguentar. Porém, de lugares, eu sinto falta. Sou virginiano com ascendente em Libra. Racional e desequilibrado. Deu pra sacar?

Talvez eu seja da escola do Lacan, que considerava que os espaços físico são psíquicos. Por isso sinto saudades da pessoa que eu SOU nesses lugares.

Sinto saudades do Cervantes e da minha adolescência prolongada. Sinto saudades do Arataca e das minhas fugas da idade adulta. Sinto saudades do Salvatore Café e da célula artística e terrorista do amor da São Salvador.

Sinto falta da Baratos da Ribeiro, do Le Bon Sebon (que não existe mais), da pizza do Café Opera, da casquinha de siri do Caneco 2, do caldo verde do Machadão,  dos livros do Woody Allen na Entrelivros, da livraria e videolocadora da Estação e  de tantos lugares que deixamos ser consumidos pelo mundo virtual.

Sinto saudades do barzinho, da feira e da pracinha da São Salvador. Sinto falta de Belo Horizonte, Nova York e Buenos Aires. Global e Local.

Sinto falta de ser reconhecido e me perguntarem: “o de sempre?”.

Na verdade, até de lugares sinto pouca falta. Sinto saudades de ser.

Pois lugares não faltam. O que faltam são as pessoas que fazem os lugares. Inclusive nós.

Onde nós estamos?

Fala aí

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.