Ensaios

TT, superlativamente onipresente

Não lembro quando conheci a TT. Foi como se num momento ela não estivesse na nossa vida, e depois ela estivesse em, literalmente, todos os lugares. Uso literalmente sem exagero. Tínhamos amigos em comum aos baldes. Para onde nos virássemos ela estava lá. Na festa de um amigo de colégio, no chopp de despedida de uma amiga do prédio, num encontro na praça com um colega de trabalho. Ela não só parecia conhecer todo mundo, como também era amada por todos.

Era basicamente impossível desgostar dela, apesar das broncas, e olha que broncas, que ela nos dava. Com seu vozeirão rouco e seus gestos expansivos, ela, como a mãezona do grupo, puxava as nossas orelhas em público, sem o menor pudor. A gente até podia ficar puto, mas o problema é que sabíamos que ela estava certa. Sempre. Assim, quando caíamos na real, ou as profecias dela se cumpriam, a gente voltava com o rabo entre as pernas,cheio de vergonha, ao seu convívio. Ela, por outro lado, agia como se nada tivesse acontecido. Tanto sabia puxar nossas orelhas, como acolher.

E como acolhia. Mesmo numa sala com 50 pessoas, ela conseguia sempre passar a impressão de que éramos as pessoas mais importantes para ela, talvez porque fóssemos. Ela, tanto se alimentava das nossas presenças, como retribuía essa energia com carinhos personalizados. Para os de abraços, abraços; para os de beijos, beijos; para os de papo, papo.

E seus papos eram os melhores. Do mais banal ao mais esotérico, ela não só conhecia de tudo, como também tinha opiniões bastante sólidas a respeito. Opiniões que ela defendia com unhas e dentes, para no meio de um ataque de teimosia, mudar de opinião, ou quase, nos dando o seu precioso benefício da dúvida. Era forte, mas sabia ser vulnerável e, principalmente, apoiar os que precisavam de ajuda.

Todo mundo tem uma história de quando ela quebrou um galho, trouxe uma palavra amiga, ou moveu mundos e fundos para nos ajudar. A primeira vez, de muitas, em que colhi a sua generosidade foi quando meu sebo estava bem mal das pernas e ela levou o evento do BOST para ser feito lá, gerando uma puta publicidade gratuita. O que é BOST? Deixa eu explicar.

Ela, criativa pra danar, com seu enorme grupo de amigos, fãs de LOST, fez uma paródia em vídeo da série. Os vídeos, no distante ano de 2005, via o finado Orkut, viralizaram e acabaram na coluna do Tom Leão no Rio Show. Na época, pra dar uma bombada na loja sugeri que fizessem um evento de casting para a segunda temporada na minha loja que estava com certeza precisando de mais clientes. Ela abraçou a ideia e fez uma super bagunça na loja que encheu de gente pra ver ela dirigindo o seu elenco amador. Não lembro como agradeci na época, mas tenho certeza que não agradeci o suficiente.

TT esteve tão presente nas nossas vidas que achávamos que ela sempre iria estar. Quando minha loja faliu e arrumei meu primeiro emprego de carteira assinada, ela estava lá. Quando fomos pra BH, sempre que vínhamos ao Rio ela fazia o maior esforço para nos ver. Quando Gabi ficou 3 meses de intercâmbio, era ela com quem eu batia papo no facebook. Quando lancei meu livro, ela foi uma das primeiras a comprar, a ler, a divulgar e a aparecer na tarde de autógrafos. Óbvio que dando ordem:

– Escreve uma dedicatória bonita pra mim, pô!

Por isso, ontem, quando recebemos a notícia, foi difícil acreditar. Foi difícil aceitar que ela não estará mais entre nós. Não estará no chorinho, não estará na praia, não estará no chopp, nem na feira da Glicério. TT tornou o Rio de Janeiro um campo minado de memórias e sentimentos para nós. Um campo minado das melhores memórias, dos mais doces sentimentos.

Porém, se servir de algum consolo, TT agora estará literalmente por toda parte, em todos os lugares do universo, em todos os planos astrais, e continuaremos esbarrando para sempre com ela nas armadilhas que a sua enorme amizade deixou para nós. TT, sempre no superlativo, se tornou um onipresente presente para o mundo. Obrigado por ter feito parte das nossas vidas.

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