Ensaios

O Globo e a Banalidade do Mal

– Bom dia, central de atendimento O Globo. Qual o seu nome?
– Lisandro.
– Posso ajudá-lo, senhor Lisandro?
– Espero que sim. Fiz a sua assinatura digital e quando tentei acessar disse que há um problema na minha assinatura.
– Seu cpf, por favor.
– XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
– Muito obrigado.

(….)

– Senhor Lisandro?
– Sim.
– A sua compra está confirmada, mas seu acesso ainda não foi liberado.
– Ué, por quê não?
– O senhor fez a sua compra pela internet?
– Sim.
– Pois, é. Para compras pela internet, seu acesso tem até 72 horas para ser liberado.
– Ué, por quê?
– Procedimento da empresa, senhor.
– Mas se eu compro pela internet, deveria ser mais rápido, né?
– Procedimento da empresa, senhor.
– Se eu comprasse por boleto seria mais rápido?
– Não. É um procedimento da empresa, senhor.
– Pô, em setenta e duas horas eu podia mandar uma carta pra vocês e ainda ter resposta.
– Procedimento da empresa, senhor.
– Não há nada que eu possa fazer?
– Não. Procedimento da empresa, senhor.
– Então eu quero cancelar.
– O senhor só pode cancelar após a conta ser ativada. O que vai acontecer…
– … em até 72 horas. Sei, sei. É o…
– …procedimento da empresa, senhor.

(…)

– Senhor Lisandro, posso ajudá-lo com mais alguma coisa?
– Posso fazer uma reclamação?
– Claro. O que deseja reclamar?
– Pô, preciso mesmo dizer?
– Sim…
– … sei, sei , é o procedimento da empresa, senhor.
– Exatamente.
– Então põe aí que eu acho um absurdo uma empresa que vende um serviço pela internet agir como se eu estivesse em 1976.
– OK.OK.
– Tem retorno?
– Como, senhor?
– Tem retorno? Essa reclamação vai ter retorno?
– Não, senhor. É apenas uma reclamação.
– Ué, não adianta nada reclamar.
– Claro que adianta, senhor. O senhor vai querer o seu protocolo?
– Pra quê?
– Pro senhor ter o registro que reclamou.
– Mas sem retorno.
– Sem retorno. Procedimento da empresa, senhor.
– Então basicamente perdi o seu e o meu tempo, né?
– De maneira alguma senhor. Vai querer anotar o número do seu protocolo?

Desliguei o telefone. Nessas horas fica claro pra mim como a banalidade do mal está presente no nosso dia a dia. As estratégias e movimentos típicos de movimentos totalitaristas como o Nazismo, perdoem me por invocar a Lei de Godwin, não são exceções, mas sim a regra. Seja em governo, empresas e até nas nossas relações pessoais. Só não vê quem não quer.

3 thoughts on “O Globo e a Banalidade do Mal”

  1. Meu amigo trabalhei 1 ano e alguns meses na maior empresa de Telemarketing do Brasil representando uma grande empresa de telefonia celular. A única maneira de ter alguma resposta diante de uma reclamação é após faze-la pedir imediatamente a gravação da mesma, que pelo menos na minha época chegava na casa do cliente em menos de uma semana o “cdzinho” com toda a conversa gravada que vc teve com o teleoperador. Com este material na mão se pode fazer alguma coisa, fora isso sua reclamação é escrita, catalogada e não se pode fazer muita coisa, na realidade alem de ganhar um salario de fome (na minha época era ridículo o que se pagava para esses jovens) o teleoperador, o supervisor e até mesmo o coordenador (que era aminha função) não podem fazer quase nada. Quem dita as regras é a empresa, como a menina que te atendeu deixou bem claro.

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