Cara, tem coisas que é até melhor não ficar sabendo. Mas como fiquei sabendo, não estou conseguindo ficar calado. O pior é que isso me pegou logo depois da minha volta da GENCON, onde entrei em paz com o meu lado gamer e mudei muito o que eu pensava sobre o hobby.
Do que estou falando? Bom, há pouco tempo atrás, a Rede RPG publicou um texto comentando sobre uma mudança de paradigma no RPG nacional. Estranhamente o artigo se focou na comparação entre os tempos de hoje e uma suposta “Era de Ouro” do RPG Nacional. Pelo que entendi do artigo essa tal época dourada comercial ocorreu nos meados dos anos 90, quando eu era particularmente atuante no meio. Engraçado que eu não me lembro de época de ouro nenhuma. Foi uma época legal e tudo, mas não tinha nada de época de ouro. O que havia realmente era mais trabalho, mais gente disposta a trabalhar, um certo deslumbramento e muitos erros sendo cometidos. Continue lendo →
Depois de abandonar a sua fantasia nostálgica e abrir mão do seu presente e do seu provável futuro, Gil Pender, alter ego de Woody Allen em Meia Noite em Paris, caminha sozinho pela noite da capital francesa. Enquanto discute consigo mesmo a respeito do que fez com sua vida, esbarra com a vendedora de discos antigos que conheceu no mercado de pulgas. Após uma pequena troca de gentilezas, a atração entre os dois se mostra clara. Bate meia noite, a hora mágica em que ele voltava no tempo. Dessa vez ele não é tragado para a sua fantasia nostálgica. Ele está vivendo uma versão dela no seu próprio presente. Sem aviso, começa a chover e, para confirmar como certa a sua escolha, a vendedora concorda com ele: é ótimo andar sob a chuva. The End. Será? Continue lendo →
Como o Thoreau, hoje, eu só quero uma casa no campo
Acho que já deu. Eu já conheço os seus gostos musicais, os clipes que você gosta, e até aqueles que te dão vergonha de adorar; você já matou o seu e o meu tempo criando novelinhas com as pessoas que aparecem do lado esquerdo do seu Profile no Facebook, fez karaoke colaborativo nas mensagens do seu mural e ambos já caímos nas promoções fakes que rolam nos twitters da vida. Enfim, depois de tanta abertura e amizade 24 por 7, nossa relação esgotou.
E como podia ser diferente? Desde o Orkut, alguém ainda lembra dele?, nós já estávamos enchendo o saco uns dos outros. Primeiro com aqueles testimonais cheios de falsa emoção, e depois participando daquelas comunidades que não levavam a lugar algum, discutindo quem eu “Como ou Não Como” ou como (ôpa!) todos odiamos segunda feiras. O básico. Falando o óbvio e fútil sem fronteiras de espaço ou tempo. Coisa de amigos. Afinal, você sabe, a internet é pra isso: unir as pessoas. Será? Continue lendo →
Nos últimos tempos, estou numa vibe meio França anos 50. Semana passada assisti ao Meu Tio do Jacques Tati e hoje pela manhã assisti ao Pickpocket do Robert Bresson. A princípio não sabia exatamente o que procurava com esses filmes, mas hoje tive um quê de iluminação. O sentimento geral dos anos 50 franceses é bastante similar ao que vivo hoje em dia.
Tanto o Meu Tio como o Pickpocket tratam de pessoas fora de sintonia com seus ambientes. O Monsieur Hulot é um anacronismo. Enquanto o progresso e a mecanização (de métodos, pessoas e relações) avança, ele os ignora para viver com seu sobrinho diversas aventuras, tentando criá-lo para um mundo mais humano do que aquele que seus pais lhe apresentam. Michel, o batedor de carteiras de Pickpocket, claramente marginalizado, justifica seus crimes pela superioridade daqueles que conseguem escapar das leis num mundo, como ele diz, “de ponta à cabeça”.
Hulot e Michel. Sujeitos perigosíssimos
Michel e Hulot, distraidamente, passam ao largo da sociedade que os rodeia. Seus objetivos diferem da multidão da qual se aproveitam e seus atos, inocentes ou não, são uma forma de sabotar o Status Quo, como na famosa cena de Meu Tio em que Hulot transforma metros e metros de mangueira em linguiças falsas.
Contudo, eles, se não totalmente, são parcialmente mal sucedidos em suas campanhas de terror. Michel termina preso e Hulot é “exilado”. Mesmo assim, longe das sociedades que os puniram, eles deixam de herança um pouco de esperança no segurar de mãos de pai e filho em Meu Tio e na tentativa de beijo por entre as grades em Pickpocket.
Não é muito, mas já é alguma coisa.
E o que diabos isso tem a ver comigo? Atualmente estou meio numa cruzada contra a mecanização. Meu trabalho basicamente é ir às pessoas e dizer lhes que podem questionar o mundo, e que as coisas são não bem assim o que lhes dizem. Na opinião do meu analista, estou fazendo uma espécie de psicanálise social, mas na minha opinião estou simplesmente tentando resgatar a humanidade nas relações que mais se afastaram dela nos últimos tempos: as relações de trabalho.
É coisa difícil de se fazer. Nos últimos séculos, o trabalho se distanciou da nossa identidade a largos passos. Construímos inclusive uma identidade pessoal e uma profissional. Paramos de ser o que fazemos; o que fazemos perdeu o significado e nosso trabalho se tornou um simples ganha pão.
Infelizmente, ou não, a perda de privacidade provocada pelos meios de comunicação botou essas duas “não-identidades” (não pode haver mais de dois critérios de igualdade) em cheque e, pelo bem da sobrevivência, o que temos visto é a “identidade” pessoal dar lugar à profissional. Tudo pelo sucesso. Afinal o que é isso mesmo?
Tudo nos conformes. O “sucesso” ao preço da individualidade.
O que nos espera no futuro? Deixaremos de ser humanos e nos tornaremos as máscaras que o mito do sucesso profissional nos impõe? Viveremos num 1984 corporativo onde a tirania do trabalho sem significado punirá tudo e todos que são diferentes? Espero que não, mas podem contar que essa luta, tenha o resultado que tiver, será dura. Se de um lado eles tem a Você S.A., a Exame, o Linked in, os livros de auto-ajuda e as biografias de milionários, estamos bem preparados com Michel, Hulot e uma série de adoráveis facínoras revolucionários em nossas tropas.
Agora empolguei. É a hora de ouvir La Marseillaise lutando contra os nazistas em Casablanca.
Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L’étendard sanglant est levé {2x}
Entendez vous dans les campagnes
Mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans vos bras,
Egorger vos fils, vos compagnes
{Refrain:}
Aux armes citoyens ! Formez vos bataillons !
Marchons, marchons,
Qu’un sang impur abreuve nos sillons
Que veut cette horde d’esclaves
De traîtres, de Rois conjurés ?
Pour qui ces ignobles entraves,
Ces fers dès longtemps préparés ? {2x}
Français ! pour nous, ah ! quel outrage !
Quels transports il doit exciter !
C’est nous qu’on ose méditer
De rendre à l’antique esclavage !
Amanhã começa o Script Frenzy, uma maratona de um mês para escrever um ou vários roteiros que somem 100 páginas. Ao contrário do NaNoWriMo que visa a construção do primeiro draft de um romance- não vale reunião de contos, poemas épicos e tal- o Script Frenzy é mais democrático e permite cinema, teatro, quadrinhos e o que mais você imaginar que seja roteirizável. Como não podia deixar de ser, já me inscrevi na maratona.
É claro que estou com um certo receio de fazer feio, como aconteceu no NaNo do ano passado, mas, quando falo de roteiros, sinto que estou mais no meu ambiente. Além disso, já tive a experiência de escrever, e reescrever, vários roteiros- esse foi o meu ganha pão por 5 anos- e se o processo de criação e filmagem do meu curta Salvação me ensinou algo foi que um roteiro nunca está pronto. Por isso, há menos culpa envolvida no seu resultado final. Um first draft ou mesmo um último draft nunca está terminado até alguém estragá-lo, quer dizer, filmá-lo.
Digo isso de cadeira. Os parcos 5 minutos (tirando créditos finais e iniciais) do Salvação foram do drama à comédia e sofreram vários revezes por motivos alheios aos meus interesses. No início, o roteiro era bem mais soturno. Aos poucos foi ganhando ares mais humorísticos. Por restrições de produção, cenas foram cortadas, recursos retirados, personagens apagados. Quando estávamos prontos para filmar, o sotaque de uns dos atores me obrigou a incluir algumas piadas meio sem graça, para justificar a sua dicção. Pra piorar, quando foi filmado, os diretores entenderam mal o texto e transformaram uma figura de linguagem num momento constrangedor. É isso aí, escrever roteiro pra outros filmarem é como doar esperma: você nunca sabe como o seu filho vai sair.
Beleza, mesmo assim ficou legal. Agradeço aos realizadores, mas bem que vocês podiam ter me ligado para acompanhar a filmagem. Seja como for, ele está por aí e você pode conferir o resultado aqui embaixo.
Agora, vou te dizer, lendo os roteiros antigos, ainda acho que o primeiro draft foi o melhor…
O pessoal da Secular Games convocou e eu aceitei o desafio. Desenvolver um RPG com cenário em 15 dias. A idéia era usar o Carnaval, para, numa maratona frenética, criar um RPG independente do nada.
Assim que fiquei sabendo me empolguei, mas, confesso, só comecei a trabalhar no sábado de manhã, véspera do prazo final. É claro que durante os 13 dias antes de me sentar pra escrever fiquei remoendo velhas idéias e buscando torná-las um jogo simples e fiel ao que realmente me interessava ver num RPG. Acho que consegui. Eis o SSH – Sistema de Simulação Heróica. Continue lendo →