Ficção

O 1° Mergulho

Na primeira segunda-feira da sua aposentadoria, ele acordou no horário de sempre, mas, como não tinha compromisso algum, não soube o que fazer. Ficou uns momentos sentado na ponta da cama, até que ouviu a praia lhe chamando. Foi até a janela e, entre os prédios de Copacabana, conseguiu ver uma nesga de mar. Estava nublado, ventando um pouquinho, mas não conseguiu resistir. Colocou a sunga e, enquanto procurava uma bermuda, percebeu que não precisava…

Continue reading

Blog

Espeto

Os churrascos com os velhos ex-amigos se perderam na memória, obscurecida pela cerveja quente, pela farofa pronta, pela carne dura e pelos comentários odiosos, travestidos de piada, que pontuavam nossas pretensas conversas. Hoje, a brasa morreu, a distância aumentou e o que se dizia piada virou discurso de ódio se fingindo de opinião política liberal conservadora.  Graças a Deus não há mais churrascos. Hoje, a carne vermelha-sangue na ponta do espeto seria a minha.

Continue reading

Ficção

Senhora

Senhora, tá me ouvindo aí dentro? Seja bem-vinda a esse mundo doido. Mas como a senhora  é preguiçosa. Sua mãe já está tendo contrações há horas e a senhora não faz o menor esforço pra sair daí. Muito prazer, senhora. É uma satisfação finalmente encontrá-la presencialmente. Vai com calma! Assim a senhora vai deixar a sua mãe seca. Isso, senhora. A senhora vai andando, se segurando pela parede, e pode mexer na estante, mas não…

Continue reading

Ficção

A Eleição sem Fim

Na última segunda feira do mês de outubro foi realizada a 27a. reunião extraordinária do Edifício Sinceridade para a eleição do novo síndico. A reunião se iniciou, como esperado, às 7 da noite. Os candidatos cumprimentaram os condôminos e apresentaram suas propostas. Primeiro, o concorrente disse que ia fazer tudo diferente da atual administração, mas não explicou como, nem o quê. Depois, o último síndico relatou que se sentia obrigado a se candidatar mais uma…

Continue reading

Poesia

Acridoce

Esqueça o amargo Relembre o doce sabor da infância que não sabemos se existiu ou se o inventamos para tornar os dias de hoje menos intra- gáveis Esqueça o amargo Sonhe Mergulhe Banhe-se nas doces fantasias de infâncias que nossos terapeutas insistem em lembrar o quão amargas fo- ram Esqueça o amargo Ou melhor, finja que o amargo é/foi doce e brinque de dia- betes com suas próprias me- mórias Esqueça o amargo Como o…

Continue reading

Ficção

Desfiando

Quando ele morreu, não foi surpresa. Não era velho, nem doente, mas todo mundo via que ele não se cuidava. Como pra todo mundo, era só uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde ia/vai acontecer; calhou de ser mais cedo. Fazer o quê? Por essas e outras não foi uma tragédia muito grande. A família foi amparada por conta de seguros e reservas financeiras; os amigos tinham histórias boas o suficiente para exercitarem…

Continue reading