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Down the hatch

Depois de quase duas semanas de quarentena, tenho percebido como a gente consegue se acostumar a muita coisa. A aparente anormalidade se torna rotina e revela mais sobre a gente do que sobre o mundo em que vivemos. Os horários de dormir e acordar; as mentiras, boas ou ruins, que contamos pra nós mesmos; os hábitos, os costumes, as esquisitices que todos sempre reclamaram se tornam óbvias e irritantes. As necessidades repentinas; os tons, as…

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Relendo Sandman

Quarentena tem dessas coisas. Resolvi reler todo Sandman. Na época que saiu, eu lia bastante quadrinhos em inglês, mas só comecei a acompanhar Sandman quando foi publicado pela editora Globo. Comecei a ler apesar da prevenção que tinha contra Neil Gaiman. Orquídea Negra, lembram, me entediou profundamente. Da invasão inglesa, achava Gaiman o mais chato. Pat Mills, Jaime Delano, Alan Moore e, óbvio, Grant Morrison falavam mais ao meu lado de angry young man. Eram…

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Tempo

Fugimos do tempo de várias formas. Ou melhor, tentamos fugir de várias formas. Tentamos dormir, ou nos embriagamos para tal, esperando ele passar. Nos ocupamos com tarefas triviais ou rezamos, torcendo que o que fazemos com ele nos leve até onde queremos ir. E, às vezes, contrariando toda a lógica, corremos dele, fisicamente, como se pudéssemos escapar de quem sempre nos acompanha. Mas não funciona. O tempo sempre está lá, até talvez porque não esteja.…

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Curb your Talmud

Acabou a décima temporada de Curb your Enthusiasm. Como em todas as outras, Larry é vítima de seus próprios pecados. Cada um dos detalhes do seu comportamento e da sua falta de habilidade de viver em comunidade se tornam literais estopins da sua própria desgraça. Tanto Curb como Seinfeld são peças morais, dignas de um Talmud Sombrio. O estranho é que, ao nos identificarmos tanto e nos tornarmos tão apegados aos personagens e seus hábitos…

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Eu queria gostar de café

Nunca tomei café. Quer dizer, nunca tive o hábito de tomar café. Se fosse por criação ou pressão social provavelmente eu beberia café. Muito. Mas nunca bebi. Mesmo quando criança e tomar café com leite era um pequeno sinal de maturidade, eu preferia Toddy. Talvez isso esteja dentro de um sistema interno voltado a manter a minha criança viva dentro de mim. Nunca quis aprender a dirigir, não acredito em ambição, ainda comungo de alguns…

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O perigo da sua importância

Não foi nessa. Foi na outra crise. Na da água. No desespero das torneiras que despejavam lama, fui ao supermercado comprar água. Cheguei no setor de bebidas e as prateleiras estavam vazias. Passou um funcionário do supermercado e eu perguntei sem esperança: – Tem mais água, não? Uma mulher, sem sinais ou idade característica, passou por nós, nessa hora, com um carrinho lotado de garrafas d’água. Quando falo lotado, não é figura de linguagem, é…

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